A Sociedade Secreta Thule
A Sociedade Thule (em
alemão: Thule-Gesellschaft) foi uma sociedade secreta, racista e oculta que foi
fundada em 17 de Agosto de 1918 por Rudolf von Sebottendorff em Munique. O nome Thule é
derivado da ilha mítica Thule. O seu nome original era "Studiengruppe für
germanisches Altertum" (Grupo de estudo para antiguidade germânica), mas
em breve ela começou a disseminar propaganda anti-republicana e anti-semítica.
Foi um grupo precursor importante para a fundação do "Deutsche
Arbeiter-Partei" (Partido Alemão dos Trabalhadores) que mais tarde se
tornaria o NSDAP (Partido Nazista). Teve membros dos escalões de topo do
partido, incluindo Rudolf Heß, Alfred Rosenberg, inclusive Adolf Hitler que foi
iniciado na Sociedade Thule por Rudolf Heß, enquanto estavam presos no forte de
Landsberg.
O seu órgão de imprensa
foi o "Münchener Beobachter" (Observador de Munique) que mais tarde
se tornaria o "Völkischer Beobachter" (Observador do Povo), o jornal
do NSDAP. A socidade Thule é também conhecida por estar associada à sociedade
secreta Germanenorden.
O símbolo associado com
o grupo Thule era uma adaga.
A sociedade Thule
permanece hoje em funcionamento, dispondo mesmo de uma página oficial na
Internet. Está sob observação do Ofício Federal para a Proteção da Constituição
da Alemanha por receio do fomento da ideologia Nazi ou Neo-Nazi.
Centro Mágico
Acreditava-se que Thule
teria sido o centro mágico de uma civilização desaparecida. Muitos ocultistas
alemães acreditavam que nem todos os segredos de Thule haviam perecido.
Criaturas intermediárias entre o Homem e outros seres inteligentes do além
colocariam à disposição dos Iniciados, ou seja, os membros da Sociedade Thule
uma série de forças que podiam ser reunidas para tornar possível que a Alemanha
dominasse o mundo... Seus líderes seriam homens que sabem tudo, obtendo sua
força da própria fonte de energia e guiados pelos Grandiosos do Mundo Antigo.
Era sobre esses mitos que a doutrina ariana de Eckardt e Rosenberg se
fundamentava e que esses profetas, instilaram na mente receptiva de Hitler. A
Sociedade de Thule logo se tornaria um instrumento na transformação da própria
natureza da realidade. Sob a influência de Karl Haushofer, o grupo assumiu sua
verdadeira característica como uma sociedade de Iniciados em comunhão com o
Invisível e se tornou o centro mágico do movimento nazista.
Haushofer era membro do
Pavilhão Luminoso, uma sociedade secreta budista no Japão, e da Sociedade
Thule. Haushofer certamente veio a conhecer em 1905, e a versão que René Guénon
apresentou em seu livro, Le Roi du Monde, após o cataclismo de Gobi, os lordes
e mestres desse grande centro de civilização, os Oniscientes, os filhos das
Inteligências do Além, levaram sua vasta morada para o assentamento subterrâneo
sob o Himalaia. Ali, no coração dessas cavernas, eles se dividiram em dois grupos,
um que seguia o “Caminho da Mão Direita”, e outro que seguia o “Caminho da Mão
Esquerda”. Os primeiros concentravam-se em Agartha, um local de meditação, uma
cidade oculta de bondade, um templo de não-participação nos assuntos deste
mundo. Os outros se dirigiram a Shamballah, uma cidade de violência e poder,
cujas forças comandam os elementos e as massas da humanidade e apressam a
chegada da raça humana no “momento decisivo do tempo”.
Assim, foi mais como um
iniciado da teocracia oriental que como um geopolítico que Haushofer
supostamente proclamou a Hitler a necessidade de “retornar às origens” da raça
humana na Ásia Central. Ele estava, portanto, defendendo a conquista nazista do
Turquistão, Pamir, Gobi e Tibet para assegurar o acesso da Alemanha a esses
centros ocultos de poder do Oriente.
Essa imagem
sensacionalista da Sociedade Thule e de seus membros era bem real. Hitler teria
comparecido secretamente a várias reuniões da Sociedade Thule. Seu fundador,
Rudolf von Sebottendorff, certamente mantinha pelo interesse no oculto, um
diário detalhado de suas reuniões regulares de 1918 a 1925 mantido por seu
secretário, Johannes Henng, menciona inúmeras palestras sobre esses tópicos.
Crescendo em importância como um grupo ocultista por trás do Partido Nazista, a
Sociedade Thule era politicamente poderosa em 1920 e iniciou suas atividades de
forma completamente secreta em 1925. Durante seu apogeu, a Sociedade Thule era
definida por sua ideologia nacionalista e anti-semita e um corpo de membros da
classe média alta, e classe alta de Munique.
Em 1939 sai uma
expedição da SS, liderada por Ernst Schãfer, teria ido ao Tibet com o expresso
propósito de estabelecer uma conexão de rádio entre o Terceiro Reich e os
lamas, e estabelecer uma conexão e uma colônia na Alemanha de Monges Tibetanos
ligados a Tradição Bön-Po.
Walter Johannes Stein
(1891-1957), um judeu vienense que havia emigrado da Alemanha para a
Grã-Bretanha em 1933, a
quem falsamente atribuiu a mais fantástica história de inspiração demoníaca de
Hitler. Antes do estabelecimento do Terceiro Reich, Stein ensinava na Escola
Waldorf em Stuttgart, que era dirigida segundo os princípios antroposóficos de
Rudolf Steiner. Durante sua época nessa escola, Stein escreveu um livro versado
e curioso, Weltgeschichte im Lichte des Heiligen Gral (1928), que dava uma
interpretação espiritual da história e sua realização cristã baseada na lenda
do Santo Graal. Em particular, Stein argumentou que romance do Graal de Wolfram
von Eschenbach, Percival (cerca de 1200), baseava-se no cenário histórico do
século IX, e os personagens fabulosos do épico correspondiam a pessoas reais,
que viveram durante o Império carolíngio. Por exemplo, o Rei do Graal,
Anfortas, foi apontado como Carlos, o Calvo, neto de Carlos Magno; Cundrie, a feiticeira
e mensageira do Graal, seria Ricilda, a Má; o próprio Percival foi considerado
como sendo Luitward de Verceili, o chanceler da corte franca; e Klingsor, o
mago maligno e dono do Castelo das Maravilhas, foi identificado como Landulf II
Cápua, um homem de reputação sinistra devido ao seu pacto com os poderes pagãos
do Islã, na Sicília, então ocupada pelos árabes. A batalha entre cavaleiros
cristãos e seus malignos adversários foi compreendida como uma alegoria de sua
duradoura luta pela posse da Lança Sagrada, a Lança de Longinus que teria
perfurado o dorso de Cristo durante a crucificação. Com base nesse possível
contato com Stein e o conhecimento de obra, Ravenscroft desenvolveu sua própria
história oculta do nazismo, e a obsessão de Hitler com os mistérios do Graal e
a Lança Longinus.
Em A Lança do Destino, Ravenscroft descreveu como
o jovem estudante Stein havia descoberto uma cópia gasta, de segunda mão.
Percival, de Eschenbach, em uma livraria ocultista no velho bairro de Viena, em
agosto de 1912. Esse volume continha muitos rabiscos manuscritos como
comentários do texto que interpretavam o épico do Graal como testes de
iniciação em uma jornada de obtenção de consciência transcendental. Essa
interpretação era apoiada por muitas citações, na mesma letra, de religiões
orientais, de alquimia, de astrologia e de misticismo. Stein também notou que
uma forte temática de ódio anti-semita e fanatismo racial pan-alemão
impregnavam todo o comentário. O nome escrito no lado de dentro da capa do
livro indicava que seu dono anterior era um tal de Adolf Hitler.
Com a curiosidade a
respeito desses rabiscos despertada, Stein supostamente voltou à livraria e
perguntou ao proprietário se poderia lhe dizer qualquer coisa sobre esse Adolf
Hitler. Ernst Pretzsche informou a Stein que o jovem Hitler era um estudante assíduo
do oculto e lhe deu seu endereço. Stein procurou por Hitler. Ao longo de seus
freqüentes encontros no final de 1912 e início de 1913, Stein aprendeu que
Hitler acreditava que a Lança de Longinus concederia ao seu dono poder
ilimitado para o bem ou para o mal. A sucessão de donos anteriores supostamente
incluía Constantino, o Grande; Carlos Martel; Henrique, o Caçador de Aves; Oto,
o Grande, e os imperadores Hohenstauffen. Como propriedade da dinastia de
Habsburg desde a dissolução do Sacro Império Romano Germânico em 1806, a Lança Sagrada agora
estava exposta na Casa do Tesouro dos Hofburg, em Viena. Hitler estava
determinado a adquirir a lança para garantir o sucesso de sua própria tentativa
de dominação mundial. Hitler acelerou seu desenvolvimento no ocultismo pelo uso
de Peiote e da Chacrona, um alucinógeno que Pretzsche lhe teria fornecido após
ter trabalhado no México, até 1892, como assistente de um apotecário, na
colônia alemã na Cidade do México.
O conhecimento de
Hitler sobre os romances do Graal e da Lança de Longinus poderia ser facilmente
atribuído ao seu ardente entusiasmo pelas óperas de Richard Wagner (1813-83), a
quem idolatrava como o maior intérprete do espírito popular germânico. O Graal
e seus cavaleiros desempenhavam um papel central em Lohengrin (1850), que
Hitler vira pela primeira vez aos doze anos em Linz e novamente mais dez vezes
durante sua época em Viena, entre 1907 e 1913. Parsifal (1882), o último
trabalho de Wagner e o único a envolver a Lança, baseava-se na história do Graal
de Eschenbach, mas fundia o simbolismo cristão original com a mística do sangue
do mito racial ariano. Nessa ópera, Parsifal (ou Percival) era o campeão casto
dos homens arianos, o único que poderia recuperar a lança sagrada, que
penetrara o dorso de Cristo, e assim preservar o Graal, o talismã da raça
alemã.
História
Thule é uma ilha ou
região identificada pelos geógrafos clássicos como a mais setentrional das
terras conhecidas. Também são encontradas, em textos e mapas medievais e do
início da Idade Moderna, as grafias Thile, Tile, Tilla, Toolee e Tylen.
A Thule dos antigos
O primeiro a falar de
Thule parece ter sido explorador grego Píteas (Pytheas), em Sobre o Oceano,
obra escrita após as viagens que teria feito ao norte entre 330 a.C. e 320 a.C., quando foi enviado
pela colônia grega de Massalia (atual Marselha) para pesquisar a origem de
produtos ali comercializados. A obra foi perdida, mas citada por geógrafos
posteriores.
Políbio, em suas Histórias (140 a.C.), cita Píteas como
tendo induzido muitas pessoas a erro ao dizer que atravessou toda a
Grã-Bretanha a pé e dar à ilha a circunferência de 40 mil estádios (8 mil km) e
contar sobre Thule, "essas regiões nas quais não há mais propriamente
terra, mar ou ar, mas uma espécie de mistura dos três com a consistência de uma
água-viva na qual não se pode andar ou navegar".
Estrabão, na sua
Geografia (30 d.C.), ao descrever o cálculo da circunferência da Terra por
Eratóstenes, nota que Píteas disse que Thule, "a mais setentrional das
Ilhas Britânicas" está a seis dias de navegação ao norte da Grã-Bretanha,
perto do mar congelado, sobre o Círculo Ártico. Mas também escreve que Píteas
era um mentiroso e as pessoas que viram a Grã-Bretanha e a Irlanda não
mencionam Thule, embora falem de outras ilhas, menores, perto da Grã-Bretanha.
Em 77 d.C., Plínio, o
Velho, ao discutir as ilhas em torno da Grã-Bretanha, diz que a mais distante
conhecida é Thule, onde não há noites no meio do verão, nem dias no meio do
inverno. Do paralelo mais setentrional, o "paralelo dos Citas", diz
que passa pelos montes Rifeus e por Thule e que nessa latitude o dia dura seis
meses e a noite outros seis meses.
Orosius (384-420 A.D) e o monge irlandês
Dicuil (final do século VIII e início do IX), descreveram Thule como estando a
noroeste da Irlanda e Grã-Bretanha, além das Faroe, o que parece sugerir a
Islândia. O historiador Procopius, na primeira metade do século VI, disse que
Thule era uma grande ilha do Norte habitada por 25 tribos, inclusive os Gautoi
(provavelmente os godos, do sul da atual Suécia) e os Scrithiphini
(provavelmente os saami, ou finlandeses) o que sugere a Escandinávia. Escreveu
também que, quando os hérulos retornaram, eles atravessaram o Varni (povo
germânico do atual Mecklenburg) e os Danes (dinamarqueses) e então cruzaram o
mar rumo a Thule, onde se estabeleceram ao lado dos godos.
Thule no ocultismo
No século XVIII, o
astrônomo francês Jean-Sylvain Bailly, considerando tábuas astronômicas
indianas que ele acreditava terem sido compiladas muito ao norte da Índia
(paralelo 49º), lendas zoroastristas segundo as quais os ancestrais dos
iranianos vinham do “pólo norte” e o mito grego dos hiperbóreos, concebeu uma
pré-história segundo a qual a Atlântida situara-se no extremo norte quando o
mundo era mais quente - no arquipélago norueguês de Spitzbergen ou, talvez, na
Groenlândia ou em Nova
Zemlya.
Ainda não se ouvira
falar da fissão nuclear, dos processos de desintegração radioativa que, sabe-se
hoje, mantém quente o interior da Terra (e muito menos do processo de fusão do
hidrogênio que sustenta o calor do Sol). Os astrônomos pensavam que nosso
planeta havia esfriado continuamente a partir da bola de lava que fora há não
mais que algumas dezenas de milhares de anos. Segundo essa ideia, o mundo devia
ter sido bem mais quente há alguns milênios e, dentro de alguns mais, estaria
completamente congelado.
Por isso, especulou
Bailly, à medida que o clima esfriou, os atlantes se mudaram para a Sibéria,
entre os rios Obi e Yenisei e depois para o Altai, no paralelo 49 (onde hoje se
encontram as fronteiras da Rússia, China, Mongólia e Cazaquistão), a partir do
qual se espalharam para a Índia, a Pérsia e a Europa. Segundo Bailly, "é
coisa muito notável que o esclarecimento pareça ter vindo do Norte, contra o
preconceito comum que a terra foi esclarecida, como também povoada a partir do
Sul..." Tenta então mostrar que, de acordo com todas as lendas e a
sabedoria antiga, "quando a humanidade começou a se reconstituir depois do
Dilúvio de Noé, o mais puro fluxo de civilização desceu do norte da Ásia para a
Índia que hoje tem a evidência de possuir o sistema astronômico mais antigo da
Terra." Segue afirmando que, na maioria das antigas mitologias, parece
existir a "memória racial" de uma "origem racial" no Norte
distante e, posteriormente, uma migração gradual para o Sul.
Sociedade de Thule
Da concepção de Bailly,
parece ter surgido a idéia de uma origem remota da humanidade e da civilização
no Norte - ou, mais especificamente, da "raça branca" ou
"ariana", identificada com "o mais puro fluxo de
civilização" -, visto que os indianos se consideravam descendentes dos
"arianos", que alguns europeus identificavam como os povos
proto-indo-europeus de cujo idioma hipotético descendiam a maioria das modernas
línguas indianas e europeias.
Na Alemanha, uma certa
Sociedade de Thule, fundada pelo ocultista maçom Rudolf von Sebottendorff
(pseudônimo de Adam Alfred Rudolf Glauer) em 18 de agosto de 1918 como seção
local da "Ordem Teutônica Walvater do Santo Graal". Esta era, por sua
vez, uma dissidência da "Ordem Teutônica" (Germanenorden) criada em
1912 por ocultistas anti-semitas.
Era uma entre várias
organizações e filosofias ocultistas nordicistas e racistas, depois chamadas
genericamente de "ariosofias", que surgiram na Alemanha a partir de
1890, das quais as mais conhecidas foram o Arminismo de Guido "von"
List (que acreditava em runas, reencarnação e panteísmo) e a Teozoologia de
Jörg Lanz von Liebenfels, segundo o qual a "raça ariana" havia se
originado de um desaparecido continente nórdico chamado Arctogéia (Arktogäa, no
original), ideia que também foi adotada por List. Segundo Joscelyn Godwin, Von
Sebottendorff havia definido o objetivo da Germanenorden como criar uma
comunidade espiritual chamada Halgadom, que abarcaria "todos os herdeiros
da antiga Thule", da Espanha à Rússia.
A a ordem Walvater
("Pai de Todos", um dos nomes de Wotan ou Odin), parece ter retomado
a noção de uma Atlântida ártica, hiperbórea, como origem da “raça ariana”. Como
René Guénon - que também via no extremo norte um símbolo de espiritualidade -,
Von Sebottendorff era admirador do sufismo e da astrologia.
A sociedade de Thule
manteve relações com Alfred Rosenberg, Rudolf Hess, Julius Streicher e Dietrich
Eckart – alguns dos principais ideólogos do movimento nazista - ou pelo menos
os hospedou. O jornalista Karl Harrer, que foi seu membro, tornou-se também um
dos fundadores do partido nazista e seu presidente. Foi o dentista Friedrich
Krohn, membro da Sociedade de Thule, que escolheu a suástica como símbolo do
partido nazista.
Entretanto, Adolf
Hitler, que entrou no partido nazista logo após sua fundação, tomou a liderança
a Harrer em 1920 e cortou os laços com a Sociedade de Thule. Em 1923, Von
Sebottendorff foi expulso da Alemanha e a Sociedade que fundara foi dissolvida
em 1925.
Em 1933, Von
Sebottendorf retornou e escreveu um livro chamado Antes que Hitler Viesse
(Bevor Hitler kam), no qual afirmava que sua Sociedade teria aberto o caminho
para Hitler: "Foi aos membros da Sociedade de Thule que Hitler veio
primeiro e foram eles os primeiros a se unir a Hitler".
Em março de 1934 o
livro foi proibido. O autor foi preso em um campo de concentração e depois
exilado na Turquia, onde se suicidou após a derrota dos nazistas. A partir de
1935, com uma lei "anti-maçônica", os nazistas também puseram fora da
lei todas as organizações esotéricas.
A suposta Thule do nazismo
A maior parte do que se
diz sobre as ideias dos nazistas históricos sobre Thule baseia-se em boatos. Alguns
nazistas possivelmente acreditaram nelas ou em ideias mais ou menos análogas,
mas nada indica que Adolf Hitler tivesse um interesse real no assunto, ou
qualquer interesse no ocultismo além do que pudesse servir como propaganda
anti-semita. Permitia ao chefe da SS, Henrich Himmler devotar recursos não
desprezíveis a essa pesquisa, mas zombava de suas obsessões ocultistas e as
continha sempre que suas idéias neopagãs pudessem causar conflito com os
militantes e simpatizantes do nazismo mais conservadores ou com as igrejas
cristãs.
Ainda assim, essas
especulações tornaram-se um mito em si mesmas, principalmente depois da
publicação de O Despertar dos Mágicos, de 1960. Segundo o livro, o general e
ideólogo nazista Karl Haushofer teria acreditado que quando Thule (ou
Hiperbórea) tornou-se inabitável, os arianos migraram para o sul.
Um grupo foi para a
Atlântida, onde se misturou com os lemurianos, que também haviam migrado para
lá. Os descendentes desses arianos impuros voltaram-se para a magia negra e a
conquista.
O outro ramo passou
pela América do Norte e pelo norte da Eurásia e fixou-se no atual deserto de Gobi,
onde fundaram Agarthi. Segundo Jean-Claude Frère, que em 1974 publicou Nazisme
et sociétés Secrètes, sobre o mesmo tema, a Sociedade de Thule identificava
Agarthi com a Asgard da mitologia nórdica.
Depois de um cataclismo
mundial, os arianos de Agarthi novamente dividiram-se em dois grupos. Um foi
para o sul e fundou um centro secreto de saber sob o Himalaia, também chamado
Agarthi, onde preservaram os ensinamentos da virtude e do vril. O outro grupo
tentou retornar a Thule ou Hiperbórea, mas em vez disso fundou Shambhala, uma
cidade de violência, maldade e materialismo. Agarthi seria a detentora do
caminho da mão direita e do vril positivo, enquanto Shambhala guardaria o
caminho da mão esquerda e da energia negativa. Os nazistas teriam buscado ajuda
em ambas essas civilizações (para mais detalhes, veja Agartha).
Este cenário parece
basear-se em grande parte nas idéias do nazista holandês Herman Wirth
(1885-1981), que de 1935 a
1937 dirigiu a "Sociedade de Estudos da Ciência Intelectual Primordial da
Herança Ancestral Alemã" (Studiengesellschaft für Geistesurgeschichte‚
Deutsches Ahnenerbe), grupo de estudos nazista sobre história antiga, de cuja
fundação também participaram Himmler e o ministro da Agricultura Richard
Walther Darré.
Em A Origem da Humanidade (Der Aufgang der
Menschheit, 1928), Wirth escreveu que uma terra desaparecida no Ártico havia
sido a pátria original da "raça nórdica-atlante" primordial e que,
com seu congelamento, seu povo teria migrado para a Atlântida. Com o posterior
afundamento dessa terra, seu povo teria emigrado para a América do Norte e a
Europa. Para mais detalhes, leia Atland, nome dado à Atlântida no suposto
manuscrito frísio medieval no qual se apoiavam as teses de Wirth.
Em 1937, o arqueólogo
alemão Edmund Kiss publicou o livro A Porta do Sol de Tiahuanaco e a Doutrina
do Gelo Universal de Hörbiger, no qual escreveu que as ruínas de Tiahuanaco
foram fundadas por habitantes de Thule há mais de 17 mil anos, conforme a
especulação do engenheiro peruano Arthur Posnansky em 1911. Além disso, Kiss
relacionou essa tese com a doutrina de Hörbiger (leia mais em Cosmogonia Glacial).
Himmler planejou enviar Kiss de volta a Tihuanaco com uma equipe de
pesquisadores da Ahnenerbe, mas a expedição foi cancelada pela irrupção da II
Guerra Mundial.
Guénon
Em o O Rei do Mundo (Le Roi du Monde, de 1927), o
ocultista francês René Guénon expressou a crença na existência literal de Thule
como centro original da civilização humana, representada como um "Eixo do
Mundo", uma "montanha sagrada":
Quase toda tradição tem
seu nome para essa montanha, tal como o Meru hindu, o Alborj persa e o
Montsalvat da lenda ocidental do Graal. Há também a montanha árabe Qaf e a
grega Olimpo, que em muitos aspectos tem o mesmo significado. Consiste de uma
região que, como o Paraíso Terrestre, tornou-se inacessível à humanidade
ordinária e que está além do alcance dos cataclismos que perturbam o mundo
humano ao final de certos períodos cíclicos. Essa região é o autêntico
"país supremo" que, de acordo com certos textos védicos e avésticos,
estava originalmente situada no Pólo Norte, até mesmo no sentido literal da
palavra. Embora possa mudar sua localização de acordo com as diferentes fases
da história humana, ele continua a ser polar em um sentido simbólico porque
essencialmente representa o eixo fixo em torno do qual tudo gira.
Segundo Guénon, os
textos védicos chamam o país supremo de Paradesha, ou "Coração do
Mundo". Seria a palavra da qual os caldeus formaram Pardes e os
ocidentais, Paraíso. Há ainda outro nome, que seria ainda mais antigo: Tula,
chamada pelos gregos Thule. Comum a regiões da Rússia à América Central, Tula
representaria o estado primordial do qual o poder espiritual emanou.
Ainda segundo Guénon, a
Tula mexicana deve sua origem aos Toltecas que vieram, segundo se diz, de
Aztlán, a "terra no meio da água", que é "evidentemente" a
Atlântida. Trouxeram o nome de Tula de seu país de origem e o eram a um centro
que conseqüentemente precisaria substituir, até certo ponto, o do continente
perdido. Por outro lado, a Tula atlante precisa ser distinguida da Tula hiperbórea
e a última representa o centro primeiro e supremo.
É preciso assinalar
aqui que, na verdade, a lenda da origem em Aztlán não é do povo historicamente
conhecido como tolteca e sim dos astecas, nome que lhes foi dado por
historiadores precisamente em função dessa lenda e os astecas fundaram sua
cidade em 1325, muito depois da queda dos toltecas, cujo império foi destruído
por chichimecas no século XII. Aztlán era representada pelos astecas como uma
ilha dentro de um lago continental e eles datavam o início de sua migração de
1064 d.C.
A capital dos toltecas
se chamou Tula, ou mais precisamente Tollán - "lugar das taboas", em
náhuatl, com o sentido figurado de lugar onde as pessoas estão apinhadas como
juncos. Mas os toltecas também não tinham a antiguidade que Guénon e Helena
Blavatsky lhes atribuía, iludidos pelas crenças dos astecas, que atribuíam
todas as construções anteriores a seu tempo aos mesmos "toltecas"
(palavra que significa "construtor"). Sua civilização surgiu no século
X, muito depois de outras civilizações mexicanas, como a dos olmecas e de
Teotihuacán.